23 de janeiro de 2009

OFICINA DE CRIAÇÃO ESTADOS CORPÓREOS



No projeto do espetáculo ESTADOS CORPÓREOS aprovado pelo FUMPROARTE em 2008 foi planejado como contrapartida três oficinas de duas horas de duração sobre a criação de algumas das cenas. Ainda na fase de estruturação do projeto, junto com Inês Hübner e Sandra Alencar a proposta era realizá-las num dia após cada fim de semana do espetáculo para o público do mesmo. O caráter era mais no sentido de formação de platéia, mais especificamente, a idéia era mostrar os caminhos da construção de algumas das cenas.  Algo de que gosto muito, saber do backstage, da feitura mesmo de cada obra.

No decorrer do projeto surgiu o convite de Airton Tomazzoni - coordenador de dança do município – para que eu realizasse as oficinas para o Grupo Experimental de Dança da Cidade, dirigido e criado por ele, mantendo vagas abertas a outros interessados. Achei muito bom, daí veio o processo de decisão do que exatamente fazer na prática. A princípio sabia que iria trabalhar por meio de improvisação a cena do Mamulengo Desossé, de resto não tinha idéia de mais nada.

Em geral, mas não é uma regra, parto de uma idéia para cada aula que vou dar - não chega a ser um planejamento - apenas penso em algum caminho, num ponto de partida e daí deslancha um laboratório ou algo assim. Tenho pensado que não acredito muito em planejamento de aula sem antes conhecer as pessoas que dela irão fazer parte. Acredito em química entre as pessoas, as aulas acontecem de acordo com a relação estabelecida entre os participantes, costumo dizer que não faço nada. Tenho um hábito de entrar na sala, observar as pessoas e então logo surge uma idéia de início, nunca tenho algo claro e objetivo. Dar aula, pra mim, se parece com improvisar uma cena, pego a primeira idéia que aparece e vou construindo, no caso de uma oficina, junto com os alunos. Essa primeira idéia acontece nos corpos dos alunos e de observá-los vai vindo outra e outra e normalmente não para mais.

Pois bem, a seguir relato um pouco desses três dias de oficinas realizadas na Cia de Arte em Porto Alegre. Nesse primeiro dia – 12/01/2009 - não foi diferente, não tinha claro que cena do Estados Corpóreos iria trabalhar. Deparei-me com 14 bailarinos e pedi que eles caminhassem pela sala ativando a consciência na respiração e nos trajetos. Depois pedi que eles fossem parando e observassem sua respiração e seu estado pós caminhada. E daí resolvi iniciar a construção da primeira cena bem pelo caminho que tenho feito pra mim. Foi interessante perceber neles a entrada no mesmo estado que atinjo na cena Degelo. Nessa oficina caiu uma ficha de como conduzir metodologicamente a entrada na primeira cena do espetáculo. A La Chaplin, sigo com o mesmo princípio perseguido no desenrolar do espetáculo, o tal plano seqüência das cenas, começar pelo começo, ora! Nesse dia preparei os alunos pra entrada em duas energias do LESSAC – o Buoyance e o Radiance. Acho que posso rotular como pré contato ou descoberta dos estados. Foi bom.

Fui pra casa pensando em preparação. Acredito no corpo como possibilidade de muitos acontecimentos, mas isso demanda alguma preliminar. Então no segundo dia – 13/01/2009 – revelei como são as minhas preliminares para entrar em cena, para ensaiar. Pra quem é da equipe já deve ter sacado do que estou falando: minhas faixinhas, de nome oficial Theraband. Desde 1999 venho dando aulas em Academias em vários locais da cidade, também aulas em pequenos grupos e cursos para bailarinos de alongamento com as tais faixas. Esse se tornou o meu treino de aquecimento, acredito nele e penso em divulgar isso por onde tenho passado, dando chance do aluno escolher quem sabe usá-lo como seu treino de força e flexibilidade. Penso nisso como uma opção a mais. O feedback da turma foi bem bom, algumas falaram que se sentiram mais dilatadasmaiores. Enfim, hoje não foi uma oficina de criação como havia previsto, mas de treinamento preliminar pra improvisação, ou ensaio. Uma aula de aquecimento. Não teve nada de improviso.

Dia 14/01/2009 – muitas idéias talvez impossíveis pra duas horas de encontro. O que fazer????? Recorrer a um esboço de plano. Nesse dia de encerramento vai rolar a participação de Fabio Mentz, músico do espetáculo e criador. Combinamos de desenvolver algo pelo acesso a alguns estados pela via musical. O Fabio trouxe uma idéia de entendimento do ritmo nas improvisações de criação do espetáculo. Algo pra mim fundamental depois de trabalhar com o Fabio, já que eu - e talvez muitos bailarinos se identifiquem com o que vou falar – ouço a música por outras vias que não apenas a do ritmo. Bom, estou na expectativa do que vai acontecer. Pretendo nesse jogo do ritmo propiciar aos oficineiros chance de viajar pelas energias Buoyance, Radiance – pré configuradas no primeiro encontro – e ainda o Potence – com a memória na aula das faixinhas. Gente, apareçam pra sacar qual é, ok? E ainda, pode acontecer algo bem diferente desse plano. Estou louca pra ver se o Mamulengo Desossé vai comparecer.

Texto: Luciane Coccaro

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